
Power Hacks nº4, com Ana Carla Fonseca: Economia criativa
17 de novembro de 2017
Amigos, hoje o papo é com a Ana Carla Fonseca (Cainha), uma das maiores especialistas do Brasil em economia criativa, professora PHD, consultora da ONU, palestrante e autora ganhadora do Prêmio Jabuti, com o livro Economia da Cultura e Desenvolvimento Sustentável: O caleidoscópio da cultura, disponível para download gratuito AQUI. Também e sócia e fundadora da Garimpo de Soluções.
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Ana, quais são as grandes oportunidades para empreendedores na economia criativa hoje? Como o digital se apresenta nesse contexto?
A economia criativa como nós defendemos não é mais uma terminologia ou adjetivação, mas sim um paradigma econômico. Toda vez que temos uma evolução tecnológica de grande magnitude, há uma fase econômica que acaba sendo desencadeada, porque essa evolução mexe com o modelo de negócios, com o fluxo econômico.
Então, seja numa ótica micro ou macroeconômica, a evolução tecnológica coloca tudo em polvorosa com esses novos arranjos.
Isso ocorreu, nas revoluções agrícola, industrial, de serviços. E a evolução tecnológica dos meios digitais foi o que origem à economia criativa, seja pelos novos modelos de negócio seja pela enorme circulação de informações e outros ativos intelectuais em velocidade enorme e escala planetária.
Por conta disso, tudo o que não é “copiável” ou facilmente transferível passa a ser mais valorizável. Então, não se pode copiar a criatividade em si, apenas sua manifestação, na forma de produtos e serviços.
Com essa escala planetária e veloz, desencadeia-se uma busca por preço, já que os produtos ficam mais parecidos. Um exemplo disso é a prestação de serviços de telefonia de celular ou itens vendidos em supermercados, muito sujeitos a promoções. O antídoto a isso é concorrer em cima de valor agregado e diferenciais de inovação. E pode ser uma inovação de processos, de marca ou algo mais disruptivo.
Tudo isso pra dizer que a economia criativa depende das tecnologias digitais até para seu surgimento. E do ponto de vista dos negócios em si, dos empreendedores, há vários tipos de empreendimentos de economia criativa que se utilizam do valor agregado percebido pelo outro. Eles utilizam a criatividade humana para construir esse diferencial, desde artes e cultura, até ciência e tecnologia.
Mas há alguns empreendimentos criativos que não dependem da tecnologia para seu processo de criação e produção, mas que são profundamente impactados pelas tecnologias digitais para modos de distribuição alternativos, romper gargalos, informarem-se sobre oportunidades de parcerias, internacionalização, lógicas de mundo.
Muito se fala das economias do compartilhamento e da colaboração e das redes formadas. Hoje é imprescindível estar “em rede”para poder explorar as inovações na sua plenitude?
Primeiramente há que se separar essas duas formas de economia. A economia compartilhada, ou do custo marginal zero, é aquela que faz que alguém invista em um ativo e busque maximizar o retorno desse investimento, seja a garagem da sua casa, seja o carro compartilhado em alguma viagem.
Já a economia colaborativa, da forma como utilizamos no Brasil, está muito mais vinculada ao “não lucro”, não necessariamente envolvendo fluxo monetário.
Então, essa diferença é importante pela existência ou não da lógica de negócios. E a formação de redes é sempre muito bem vinda. Voltando à lógica da resposta anterior, é possível oxigenar as idéias, se nutrir de informações e até mesmo basear todo o seu modelo de negócio à partir do trabalho em redes.

Como calcular preços e margens em serviços com intangíveis tão intensos como na economia criativa?
Essa questão envolve tudo relacionado à inovação. Quanto mais disruptiva for a inovação, maior a dificuldade de se calcular e ter comparabilidade no mercado. Por isso é preciso buscar um mix de três coisas.
O processo de planejamento, pesquisa e prototipagem, formais e informais, visando obter um “pulso” quanto à percepção dos outros sobre o valor do que está sendo oferecido. Não adianta a existência de um valor, sem o entendimento e retribuição por parte do cliente.
As vezes, temos uma coisa incrível e a outra parte não consegue entender por um detalhe, uma questão de comunicação, de apresentação, de exposição, de distribuição, o que for.
Ter esse mix azeitado é fundamental. Há também muito da intuição do empreendedor, de questões mais informais.
E o terceiro fator, que é imprescindível que seria a sorte.É lógico que o que se coloca no mercado pode ser adaptado, criando-se versões mais básicas, com modelos superiores mais premium,
E os erros na trajetória de um empreendedor? Você acredita que ensinam tanto quanto acertos? Você pode citar um erro que te trouxe um grande aprendizado na sua trajetória?
Na minha experiência os erros ensinam até mais. Quando as coisas dão certo, a tendência do empreendedor é olhar para trás e prestar atenção em coisas que são mais basilares para seu desenvolvimento. Quando dá errado, dói tanto, que, invariavelmente se aprende mais.

Em relação a erros com os quais aprendi, lembro bem de um projeto desenvolvido há cerca de 3 anos em Porto Rico, com um time de profissionais super gabaritados.
Após um início promissor, houve problemas sérios de inadimplência dos contratantes. Após uma busca pelos meios legais de se resolver, descobrimos muitos problemas sobre o contratante, um ex-aluno meu, junto ao governo de Porto Rico.
O aprendizado foi estruturação de uma varredura legal sempre que vamos assinar um contrato ou fazer uma parceria nova.
Agora faça a pergunta que não foi feita e deixe para a reflexão dos leitores do blog.
Essa é a mais difícil hein? Tendo em vista que mais da metade das atividades do trabalho não existirá em 20 a 40 anos. Então, a pergunta que eu faço para os empreendedores é como eles estão se preparando não só para os negócios deles dar certo no presente, mas como eles individualmente, e como potenciais geradores de muitos outros empreendimentos, se preparam para esse futuro cada vez mais próximo.